Blindados da Marinha: por que a PF não os usa?
O recente anúncio de que o blindado da Marinha foi considerado “fundamental” para a megaoperação no Rio de Janeiro trouxe à tona um debate recorrente no cenário da segurança pública: por que a Polícia Federal (PF) não conta com esse tipo de veículo em seu arsenal? A resposta envolve questões técnicas, estratégicas, orçamentárias e de interoperabilidade entre as forças armadas e as polícias civis.
O papel dos blindados em operações de alto risco
Blindados militares, como os utilizados pela Marinha, são projetados para suportar tiroteios intensos, explosões e terrenos adversos. Em operações de cerco a áreas de tráfico de drogas ou quadrilhas armadas, eles oferecem proteção a equipes de abordagem, permitem o avanço rápido sob fogo inimigo e reduzem o risco de baixas. A presença de um veículo blindado pode cambiar o equilíbrio tático da operação, proporcionando cobertura e mobilidade que veículos comuns não conseguem oferecer.
Limitações técnicas e estratégicas da PF
Apesar das vantagens operacionais, há barreiras que impedem a PF de adotar tais blindados:
- Exclusividade de uso militar: Esses veículos são classificados como material de defesa nacional, licenciados exclusivamente para as Forças Armadas.
- Custo de aquisição e manutenção: O investimento inicial e os custos de manutenção especializada superam amplamente o orçamento da PF.
- Treinamento e certificação: Operar blindados exige treinamento específico, incluindo condução em zona de conflito e manejo de sistemas de proteção.
- Logística de deslocamento: O transporte de blindados para áreas urbanas exige rotas específicas, planejamento de tráfego e suporte de engenharia, o que pode retardar a execução da operação.
Alternativas utilizadas pela Polícia Federal
Enquanto o blindado naval não está disponível, a PF recorre a veículos blindados de uso civil, como SUVs com blindagem de nível III ou vans adaptadas, que atendem a parte das necessidades, porém com menor capacidade de proteção.
Consequências para a segurança pública
A falta de blindados de nível militar pode limitar a PF em operações de grande escala, como o cerco a complexo de criminalidade no RJ, onde o risco de confronto armado é elevado. Em contrapartida, a ausência desses veículos também reduz o risco de militarização excessiva da segurança pública, mantendo a atuação policial dentro do escopo civil e de direitos humanos.
Perspectivas futuras
O debate segue intenso entre gestores públicos, militares e especialistas em segurança. Possíveis caminhos incluem:
- Acordos de cooperação interinstitucional que permitam o empréstimo temporário de blindados da Marinha em operações especiais.
- Investimento em blindados de proteção média, adequados ao uso policial, mas mais acessíveis que os modelos militares.
- Programas de treinamento conjunto, criando equipes híbridas capaz de operar veículos blindados em cenários de alto risco.
Em síntese, embora os blindados da Marinha representem uma ferramenta poderosa, sua adoção pela Polícia Federal está condicionada a fatores normativos, financeiros e operacionais. O desafio é encontrar um equilíbrio que maximize a eficácia das operações sem comprometer a missão civil da PF.


